quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Maioria dos Planos Estaduais de Educação (13) aprovados incluem referência à igualdade de gênero
Para conhecimento, divulgação e mobilização nos estados SP,RJ, MG, BA e CE.
Vamos redobrar os esforços pela respeito a todos e todas.
Toni Reis
Pós-doutorando em Educação - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos
Bolsista da CAPES
Membro Titular do Fórum Nacional, Estadual (Paraná) e Municipal (Curitiba) de Educação
Secretário de Educação da ABGLT
Diretor de Relações Internacionais UNALGBT
Comitê Executivo da Rede Gaylatino
Diretor Executivo - Grupo Dignidade/CEPAC/IBDSEX
http://lattes.cnpq.br/6056553002895088
Maioria dos Planos Estaduais de Educação aprovados incluem referência à igualdade de gênero
Segundo levantamento da iniciativa De Olho nos Planos, dos 22 estados que sancionaram seus Planos, 13 incluíram menções à igualdade de gênero
Apesar de o Brasil ser um país laico, manifestações religiosas ocuparam o centro do debate sobre políticas públicas para a área educacional nos últimos dois anos. A polêmica que ganhou força nos momentos finais de tramitação dos Planos de Educação Nacional, Estaduais e Municipais se refere à inclusão ou não de metas relacionadas ao combate à discriminação e desigualdade de gênero.
De acordo com levantamento da iniciativa De Olho nos Planos, dos 22 estados que sancionaram seus Planos até janeiro deste ano, 13 incluíram menções à igualdade de gênero (Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Alagoas e Rio Grande do Norte).
Apesar de o estado do Rio Grande do Norte não incluir a palavra “gênero” em seu Plano, o levantamento considerou que o documento contém referência à igualdade de gênero. No texto há a determinação, por exemplo, de que os currículos escolares devem se estabelecer a partir da “perspectiva dos direitos humanos, adotando práticas de superação do racismo, do machismo, do sexismo, e de toda forma de preconceito, contribuindo para a efetivação de uma educação não discriminatória”.
Para o membro do Fórum Nacional de Educação (FNE), Toni Reis, uma das maneiras mais efetivas para reduzir a desigualdade e combater o preconceito é atuar por meio da educação formal para ensinar o respeito e a dignidade aos estudantes.
“Há várias pesquisas que comprovam que a evasão escolar é causada também pelo preconceito, pela discriminação e pela violência, mais conhecidos como bullying. A pesquisa nacional Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, publicada em 2009, revelou que as atitudes discriminatórias mais elevadas se relacionam a gênero (38,2%); orientação sexual (26,1%)”, citou Toni, que também é secretário de educação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
E é por isso que, segundo ele, “trabalhar o respeito a todos e todas, especificando as discriminações, contribui para que os estudantes tenham prazer de estar na escola e que esta seja um lugar seguro”.
O levantamento verificou, por outro lado, que nove estados não fizeram referência à igualdade de gênero em seus documentos já sancionados (Acre, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Piauí, Paraná, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins). No que diz respeito a estes estados, de acordo com o membro do FNE, continua sendo possível e necessário trabalhar com a igualdade de gênero nas políticas educacionais ainda que não esteja previsto no Plano: “a Constituição diz claramente que uma das funções do Estado é combater todas as formas de preconceito. Ainda, um dos princípios da LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] é o respeito à liberdade e apreço à tolerância”. (Leia também: O que fazer se a igualdade de gênero não tiver sido aprovada no Plano de Educação?)
O próprio Conselho Nacional de Educação (CNE), segundo Toni, já manifestou “preocupação com Planos de Educação que vem sendo elaborados por entes federativos brasileiros e que têm omitido, deliberadamente, fundamentos, metodologias e procedimentos em relação ao trato das questões relativas à diversidade cultural e de gênero”. De acordo com nota pública divulgada no dia 1º de setembro de 2015, o Conselho defendeu a revisão dos Planos Estaduais e Municipais de Educação que não possuam metas relacionadas ao combate à discriminação e desigualdade de gênero. (Clique aqui e veja mais informações)
Como principais desafios para a garantia da educação independente do gênero ou da orientação sexual de estudantes e profissionais da educação, Toni aponta a necessidade de efetivar três principais ações: implementar a educação sobre os temas dos direitos humanos e da diversidade na formação inicial e continuada oferecida por faculdades e universidades; disponibilizar material didático-pedagógico para auxiliar os profissionais de educação na abordagem destes temas; e realizar pesquisas para o monitoramento e avaliação desse trabalho.
Segundo a plataforma Planejando a Próxima Década, do Ministério da Educação, observa-se que cinco estados ainda não sancionaram seus Planos de Educação (Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo). De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em junho de 2014, estados e municípios deveriam ter sancionado o documento até junho de 2015. Até o momento, 22 estados (81,5%) e 5462 municípios (98,06%) já sancionaram seus respectivos Planos de Educação.
Imagens: De Olho nos Planos
Reportagem: Gabriel Maia Salgado
Edição: Ananda Grinkraut
http://www.deolhonosplanos.org.br/maioria-dos-planos-estaduais-de-educacao-aprovados-incluem-referencia-a-igualdade-de-genero/
Pai gay escreve carta a Cavaco Silva Leitor do CM Toni Reis fez-nos chegar esta carta aberta dirigida ao Presidente da República.
"Querido Presidente Aníbal Cavaco Silva, Fico muito feliz em saber através do site oficial de divulgação da Presidência da República de Portugal que o senhor "iniciou o seu primeiro mandato assumindo o compromisso de fortalecer os vínculos que unem os Portugueses enquanto cidadãos da mesma República e, bem assim, de exercer o cargo com absoluta imparcialidade". Sou brasileiro, tenho 51 anos, sou pós-doutorado em Educação e tenho uma trajetória de mais de 30 anos no movimento LGBT brasileiro, tendo sido por dois mandatos presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, entidade nacional com status consultivo junto à ONU, que atualmente congrega 308 entidades afiliadas. Sou muito grato por ter herdado essa língua maravilhosa que é o português. Admiro muito Portugal, por ter contribuído para a cultura do nosso país. Como disse Fernando Pessoa, "o povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo". Sou casado com o meu marido David Harrad há 26 anos e conseguimos o direito de adotar três crianças. Olha que bonito o que o ministro Ayres Britto, na época presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, falou em 2011 no seu voto sobre o reconhecimento das uniões entre casais homoafetivos, voto este que foi vencedor unanimemente: "sinónimo perfeito de família... Os beneficiários imediatos dessa multiplicação de unidades familiares são os seus originários formadores, parentes e agregados. Incluindo nestas duas últimas categorias dos parentes e agregados o contingente das crianças, dos adolescentes e dos idosos. Também eles, crianças, adolescentes e idosos, tanto mais protegidos quanto partícipes dessa vida em comunhão que é, por natureza, a família". Também foi esta frase que embasou a decisão posterior da Ministra Carmem Lúcia da nossa corte suprema em 2015, que consolidou o direito de eu e o meu marido (e por conseguinte os demais casais homoafetivos) adotarmos crianças e adolescentes. Longe de querer dar lições destas longínquas terras "descobertas" pelo comandante Pedro Álvares Cabral e tão bem descritas por Pero Vaz de Caminha. Porém, soubemos pela imprensa que o senhor vetou a lei aprovada no Parlamento no dia 18 de dezembro de 2015 que daria o direito a casais homossexuais para adotarem crianças no País. Fiquei deveras triste com a sua justificativa de que "é importante que uma mudança desta magnitude, sobre um tema tão sensível socialmente, não entre em vigor sem que seja precedido de um amplo debate público" e que "acredita que ainda não há espaço para essa prática." Ora, pois, pois... Direitos humanos, como bem descritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, são indivisíveis, não se discutem, respeitam-se. Neste momento é oportuno citar um dos maiores escritores da literatura lusófona, Luís de Camões, que vossa mercê tanto admira: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Ora, se Portugal já permite desde 2010 o matrimónio entre casais do mesmo sexo, pelo princípio da igualdade e da isonomia, não poderia ter como negar o direito de adoção aos casais homoafetivos. Diferenciar entre tipos de matrimónio é discriminação. Contraria a essência da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Portuguesa: "Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei" (art. 13). Creio que "Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras", como disse Saramago. Eu e a minha família ficámos muito dececionados com a sua postura que, sem pré-julgamento, achamos um pouco precipitada e preconceituosa. Novamente, Saramago, com sua sabedoria, nos ensina que "sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos". As nossas crianças estão muito bem na escola, nos escoteiros, no clube... Têm todo o amor, carinho, atenção, apoio moral e financeiro (mesmo com a crise...), enfim são amparadas pelo cumprimento das nossas obrigações enquanto pais. Indo um pouco para a ciência, que nos ensinou que a Terra não era quadrada, apesar de os viajantes portugueses acharem que era antes do "descobrimento", no livro O direito à homoparentalidade (ZAMBRANO et al., 2006), entre os diversos achados, a revisão dos estudos realizados no decorrer de mais de 30 anos sobre famílias formadas por pais e mães homoafetivos /as aponta que o bom desenvolvimento da criança depende da qualidade da relação com os pais e não do sexo dos mesmos; ter dois pais ou duas mães não afeta o desenvolvimento da identidade sexual e o desenvolvimento psicológico dos filhos, não causa confusão de identidade sexual e não influencia a orientação sexual (ser homo, bi ou heterossexual) dos filhos. A revisão dos estudos também apontou que as famílias homoparentais desenvolvem mecanismos para enfrentar a estigmatização externa e que, igual a outros grupos minoritários, as crianças de famílias homoparentais aprendem a lidar com a discriminação. Posto isto, vimos fazer um pedido desde esta ex-colónia, Brasil, antes chamada de Terra de Vera Cruz: Presidente, reveja sua posição. Aproveitando a oportunidade, rogamos ao Parlamento português que, de forma altiva e progressista , derrube o veto presidencial. Afinal, "o que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas", disse Saramago. Esperamos que o senhor reconsidere e tome uma atitude mais condizente com os motivos pelos quais foi condecorado pela atuação "em favor da promoção do desenvolvimento e da paz". "Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres..." (Rosa Luxemburgo). Toni Reis"
Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/cartas_dos_leitores/detalhe/pai_gay_escreve_carta_a_cavaco_silva.html
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