Carta aberta à Presidenta Dilma Vana Rousseff
Querida presidenta Dilma,
No seu governo, ficamos felizes porque vinham se concretizando
afirmações feitas na campanha e na posse. No dia 30/03/2011 houve a
posse do Conselho Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBT), que é composto por 15 ministérios e 15 organizações
da sociedade civil. Um avanço importantíssimo.
Ficamos mais felizes ainda com sua convocação no dia 18/05/2011, em
conjunto com a Ministra Maria do Rosário, da II Conferência Nacional
LGBT, a ser realizada nos dias 15 a 18 de dezembro de 2011.
Na semana do Dia Internacional (e Nacional) Contra a Homofobia, fomos
recebidos por 12 ministérios de seu Governo, para tratar de questões
LGBT.
Também para relembrar, em discurso de posse Vossa Excelência afirmou:
“Quem, como eu e tantos outros da minha geração, lutamos contra o
arbítrio e a censura, somos naturalmente amantes da mais plena
democracia e da *defesa intransigente dos direitos humanos*, no nosso
País e como bandeira sagrada de todos os povos”
“o Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos,
fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um…
de todos aqueles que lutam para *superar distintas formas de
discriminação*”
“Essa não será uma tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçada por toda a sociedade”
“A ação integrada de todos os níveis de governo e a participação da
sociedade é o caminho para a *redução da violência que constrange a
sociedade e as famílias brasileiras*”.
No entanto, no dia 25 de maio recebemos a notícia desalentadora que
V. Excia. suspendeu – sem ter consultado os Ministérios envolvidos, o
próprio Conselho Nacional LGBT, ou outras pessoas diretamente envolvidas
com o assunto – um trabalho árduo de pelo menos 537 pessoas de todas as
regiões do país, conduzido por instituições de renome: a Pathfinder do
Brasil, a ECOS – Comunicação em Sexualidade; a Reprolatina – Soluções
Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva, e realizado durante 3 anos em
parceria com o Governo Federal. O produto desse trabalho, o Kit do
Projeto Escola Sem Homofobia, foi avalizado pelo Conselho Federal de
Psicologia, UNESCO, UNAIDS, entre outras entidades de renome nacional e
internacional.
O material do kit foi analisado pelo Departamento de Justiça,
Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça, que faz a
“classificação indicativa”, e que deliberou que o material está
apropriado para uso no Ensino Médio.
No dia 03 de maio, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
(Procuradoria Geral da República) promoveu uma audiência pública
intitulada “Avaliação dos programas federais de respeito à diversidade
sexual nas escolas”. A avaliação incluiu o kit de material do projeto
Escola Sem Homofobia, e concluiu que o mesmo está apropriado para uso no
Ensino Médio:
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/informacao-e-comunicacao/informacao-e-comunicacao/eventos/direitos-sexuais-e-reprodutivos/audiencia-publica-avaliacao-programas-federais-respeito-diversidade-sexual-nas-escolas/audiencia-publica-dos-programas-federais-de-respeito-a-diversidade-sexual-nas-escolas
Queremos dizer que não queremos “propaganda” de nossa ORIENTAÇÃO*
sexual e nem de nossa identidade de gênero. Nunca pedimos isto. Todo
mundo sabe que somos lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais.
Querida presidenta Dilma … esta carta não é chantagem. É uma
reivindicação baseada nos compromissos afirmados por seu governo e
baseada nas garantias fundamentais da Constituição Federal.
Como cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, queremos políticas
públicas e legislações para acabar com a vergonha nacional do
“HOMOCIDIO” Brasileiro … 3.448 assassinatos, segundo o Grupo Gay da
Bahia.
Veja as outras cifras de pesquisas científicas:
60% dos/das LGBT Brasileiros/as já foram discriminados/as
20% dos/das LGBT Brasileiros/as já foram espancados/as
60% dos/das profissionais de educação não sabem lidar com LGBT
87% dos/das brasileiros/as têm preconceito contra LGBT.
40% dos adolescentes masculinos não querem nem saber de estudar com LGBT.
Estas e outras informações sobre discriminação e a violência contra a população LGBT estão disponíveis para consulta em : http://www.abglt.org.br/port/pesquisas.php
, a saber:
· MEC/UNESCO – Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas (2009)
· FIPE/MEC/INEP Estudo sobre ações discriminatórias no âmbito escolar (2009) – completo http://www.abglt.org.br/docs/Relatorio%20Final.zip
· FIPE/MEC/INEP Estudo sobre ações discriminatórias no âmbito escolar (2009) – principais resultados
· Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas (2009) http://www.abglt.org.br/docs/Revelando_Tramas.pdf
· Pesquisa Fundação Perseu Abramo – 2008 http://www.abglt.org.br/docs/FPA_Pesquisa.zip
· Pesquisa DataSenado PLC 122/2006
· Marcha del Orgullo y Diversidad Sexual – Santiago de Chile 2007
· Pesquisa 5ª Parada da Diversidade de Pernambuco – Recife 2006
· Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – São Paulo 2005
· Marcha del Orgullo GLTTB – Buenos Aires 2006
· Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – Rio de Janeiro 2004
· Pesquisa 8ª Parada do Orgulho GLBT – Rio de Janeiro 2003
· Pesquisa 8ª Parada do Orgulho GLBT – Belo Horizonte 2006
· UNESCO – Juventudes e Sexualidade
Ainda, em junho de 2010, foram publicados os resultados de uma
pesquisa promovida pelo Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do
Ministério da Saúde, referente à população gay. Embora o enfoque da
pesquisa tenha sido a obtenção de informações sobre a epidemia da aids
nesta população, outros dados relevantes também foram revelados, entre
os quais destacamos que 51,3% dos entrevistados afirmaram ter sido
discriminados no local de trabalho em função de sua orientação sexual.
Presidenta Dilma como mãe e como vovó veja este vídeo da
Dona Angélica mãe que perdeu seu filho Alexandre Ivo causado
pelo homofobia
… triste né? Eu chorei muito.
Todos e todas contra a violência e a discriminação à comunidade LGBT neste pais.
Enfim presidenta Dilma,
“Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro.” (Fernando Sabino)
Continuamos nosso diálogo.
Sangrando na luta (ainda) não morto.
Tudo que não nos mata nos fortalece (Nietzsche)
Nossa luta se estremeceu mas com isto também nos fortaleceu e
percebemos que temos que derrubar muito mais muros e construir
muito mais pontes a alem do que já fazemos.
“Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme quem te adora a própria morte
Terra adorada!
Entre outras mil és tu Brasil, ó Pátria amada!” (Hino Nacional)
Parabéns Supremo Tribunal Federal – o principio da igualdade venceu. Orgulho do Brasil
Nós LGBT unidas e unidos sempre com aliados e aliadas contra homofobia individual, social e institucional.
Queremos a aprovação imediata de uma lei que criminalize a homofobia.
A base aliada é ampla. A senhora pode nos ajudar muito sim. Com
certeza será mais fácil que o código florestal.
Queremos o investimento de recursos em todos os Ministérios para que
as 600 propostas da 1ª Conferência acional LGBT saiam do papel e o
descontingenciamento já de todas as emendas destinadas as ações de
proteção e garantia da cidadania da população LGBT (accountability now).
Queremos que os órgãos do Governo Federal implantem imediatamente as
166 ações do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos
LGBT.
Queremos que haja registro oficial nos Boletins de Ocorrência e
Laudos dos IML sobre a violência e discriminação contra a população
LGBT. Para ter políticas de combate a este fenômeno, há de ter
estatísticas oficiais. Governador Sérgio Cabral pode colaborar
muito.
Queremos que seja cumprido o Decreto 109-A, de 17 de janeiro de
1890, que estabelece a Laicidade do Estado, e o respeito a todas as
religiões, qualquer seja sua denominação, e o respeito aos ateus e às
ateias.
Além do kit Escola Sem Homofobia, queremos um grande kit “Sociedade
Sem Homofobia”. Queremos uma Campanha Nacional do Governo Federal contra
a Homofobia. Queremos uma campanha contra o bullying e contra toda e
qualquer forma de discriminação
Isto posto, estamos convocando as organizações LGBT afiliadas da
ABGLT – assim como as organizações e pessoas parceiras e aliadas – para,
juntos e juntas, no mês de junho – em que se comemora o Dia Nacional e
Internacional do ORGULHO LGBT, fazermos uma mobilização nacional em
todas as capitais e cidades, iniciando em São Paulo com a maior Parada
LGBT do mundo, denunciando a situação da discriminação e violência
contra a comunidade LGBT brasileira. E com todos os casais homoafetivos
registrando suas uniões estáveis, em pé de igualdade com seus pares
heterossexuais. Viva os 11 Ministros do STF
“Hasta la Victória siempre”. Que a “Sierra Maestra” da homofobia seja tomada pelo respeito à diversidade humana neste pais.
Esse pais tem justiça, que o diga os dez ministros do Supremo
Tribunal Federal. A decisão do STF é o exemplo e o norte para o
Executivo e o Legislativo. Agradecemos pelo apoio de seu Governo: nos
dias 4 e 5 de maio, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União defenderam no Supremo Tribunal Federal o reconhecimento da
igualdade de direitos dos casais homoafetivos e a Ministra da Secretaria
de Direitos Humanos e membros de sua equipe acompanharam a votação
pessoalmente.
Que a CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988seja
cumprida em todos seus artigos, principalmente o artigo 3º: Constituem
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária (inclusive para pessoas LGBT)…
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (inclusive para
pessoas LGBT).
e o artigo 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
Que derrubemos a “Bastilha” do racismo, machismo, patriarcado,
obscurantismo, antissemitismo, fundamentalismo, fanatismo, a homofobia e
a intolerância religiosa. Que tudo isto vá para o ralo da história.
Estamos abertos ao diálogo e à negociação, sempre.
País rico é um país sem pobreza, e também sem homofobia. Todos e todas contra a miséria social e intelectual.
Fraternalmente
Toni Reis
Conselheiro do Conselho Nacional LGBT
Agraciado pelo Prêmio de Direitos Humanos do Governo Federal em 2010
Professor
Especialista Sexualidade Humana
Mestre em Filosofia
Doutorando em Educação
Presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (gestão 2010-2012).
Secretário do Conselho Diretor da ASICAL – Associação para Saúde Integral e Cidadania na América Latina e Caribe
* não OPTAMOS por ser LGBT. Quem optaria por sofrer todas estas e
outras formas de preconceito, estigma, discriminação e violência?
Nenhum comentário:
Postar um comentário